Ibid., p. 328
The Book of Disquiet
Original: Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da felicidade é infeliz; porque conhecer-se feliz é conhecer-se passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás. Saber é matar, na felicidade como em tudo. Não saber, porém, é não existir.
Fernando Pessoa Quotes
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: O tédio é a falta de uma mitologia. A quem não tem crenças, até a dúvida é impossível, até o cepticismo não tem força para desconfiar.
Ibid., p. 371
The Book of Disquiet
Original: O homem não deve poder ver a sua própria cara. Isso é o que há de mais terrível. A Natureza deu-lhe o dom de não a poder ver, assim como a de não poder fitar os seus próprios olhos.
“To pretend is to know oneself.”
Fingir é conhecer-se.
Álvaro de Campos (heteronym), in Presença no. 5 (1927)
“Clear in thinking, and clear in feeling,
and clear in wanting”
Poem "D. Pedro", verses 1-2
Message
Original: Claro em pensar, e claro no sentir,
e claro no querer
Ibid., p. 182
The Book of Disquiet
Original: Penso as vezes, com um deleite triste, que se um dia, num futuro a que eu já não pertença, estas frases, que escrevo, durarem com louvor, eu terei enfim a gente que me "compreenda", os meus, a família verdadeiro para nela nascer e ser amado. [...] Serei compreendido só em efígie, quando a afeição já não compense a quem morreu a só desafeição que houve, quando vivo.
“My life is as if you've hit me with it.”
Ibid., p. 101
The Book of Disquiet
Original: A minha vida é como se me batessem com ela.
Ibid., p. 100
The Book of Disquiet
Original: Entre mim e a vida há um vidro ténue. por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não lhe posso tocar.
Ibid., p. 375
The Book of Disquiet
Original: Em qualquer espírito, que não seja disforme, existe a crença em Deus. Em qualquer espírito, que não seja disforme, não existe crença em um Deus definido.
“Strength without agility is a mere mass.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: A força sem a destreza é uma simples massa.
Ibid., p. 89
The Book of Disquiet
Original: A civilização consiste em dar a qualquer coisa um nome que lhe não compete, e depois sonhar sobre o resultado. E realmente o nome falso e o sonho verdadeiro criam uma nova realidade. O objecto torna-se realmente outro, porque o tornámos outro. Manufacturamos realidades.
Ibid., p. 250
The Book of Disquiet
Original: Se eu tivesse escrito o Rei Lear, levaria com remorsos toda a minha vida de depois. Porque essa obra é tão grande, que enormes avultam os seus defeitos, os seus monstruosos defeitos, as coisas até mínimas que estão entre certas cenas e a perfeição possível delas. Não é o sol com manchas; é uma estátua grega partida.
Ibid., p. 88
The Book of Disquiet
Original: Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma igual.
“Every man who deserves to be famous knows it is not worth the trouble.”
Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo.
A Celebridade (1915)
“The train slows down, it's the Cais do Sodré. I arrived to Lisbon, but not to a conclusion.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão.
O único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:—
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
Alberto Caeiro (heteronym), O Guardador de Rebanhos ("The Keeper of Sheep"), XXXIX, trans. Richard Zenith.
“Faithful to the word given and the idea had.
All else is up to God!”
Poem "D. Pedro", verses 11-12
Message
Original: Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
“There's no regret more painful than the regret of things that never were.”
Ibid., p. 111
The Book of Disquiet
Original: Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!
Ibid., p. 413<ǃ--Assírio & Alvim, 2008-->
As quoted in Os Grandes Trechos, Richard Zenith Edition, Lisbon, 2006, p. 413
The Book of Disquiet
Original: Ter opiniões definidas e certas, instintos, paixões e carácter fixo e conhecido — tudo isto monta ao horror de tornar a nossa alma num facto, de a materializar e tornar exterior.
Ibid., p. 77
The Book of Disquiet
Original: O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que ´desejável, e sofrer por não ser perfeito como se se sofresse por não ter pão. O mal romântico é este: é querer a lua como se houvesse maneira de a obter.
“Sailing is necessary, living is not necessary.”
Ibid., pp. 133, 262
This has been attributed to Pessoa. Indeed, it is from Plutarch's "Parallel Lives", about Pompeus, when demanding that soldiers board the ships, when they were afraid of dying at sea.
The Book of Disquiet
Original: Navegar é preciso, viver não é preciso.
“These are Fortunate Islands,
These are lands without a place”
Poem "As Ilhas Afortunadas", verses 11-12
Message
Original: São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar
English note by the hand of the poet in the same paper sheet: Your poems are of interest to mankind; your liver isn't. Drink till you write well and feel sick. Bless your poems and be damned to you.
Ibid., p. 229
The Book of Disquiet
Original: Se um homem escreve bem só quando está bêbado dir-lhe-ei: embebede-se- E se ele me disser que o seu fígado sofre com isso, respondo: o que é o seu fígado? É uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto.
“Be plural, like the universe!”
Sê plural como o universo!
Páginas Íntimas e de Auto Interpretação (published posthumously, 1966)
“The sea with an end can be Greek or Roman:
the endless sea is Portuguese.”
Poem "Padrão", Versos 11-12
Message
Original: O mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
“I'm a man for whom the outside world is an inner reality.”
Ibid., p. 376
The Book of Disquiet
Original: Sou um homem para quem o mundo exterior é uma realidade interior.
“Deceiving himself well is the first quality of the statesman.”
Ibid., p. 241
The Book of Disquiet
Original: Saber iludir-se bem é a primeira qualidade do estadista.
<p>Original: E a suprema glória disto tudo, meu amor, é pensar que talvez isto não seja verdade, nem eu o creia verdadeiro.</p><p>E quando a mentira comece a dar-nos prazer, falemos a verdade para lhe mentirmos.</p>
Ibid., p. 280
The Book of Disquiet
“Myth is the nothing that is everything.”
Poem "Ulisses", verse 1
Message
Original: O mito é o nada que é tudo.
"A Factless Autobiography", number 3, tr. by Richard Zenith
The Book of Disquiet
“Common man, no matter how hard life is to him, at least has the fortune of not thinking it.”
Ibid., p. 181
The Book of Disquiet
Original: O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar.
“The beauty of a naked body is felt only by the dressed races.”
Ibid., p. 75
The Book of Disquiet
Original: A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas.
“The slope takes you to the windmill, but effort takes you nowhere.”
Ibid., p. 171
The Book of Disquiet
Original: A ladeira leva ao moinho, mas o esforço não leva a nada.
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos)
.....
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Ricardo Reis (heteronym), ode translated by Peter Rickard.
“Yes, talking to people makes me sleepy.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: Sim, falar com gente dá-me vontade de dormir.
“Ah, to be you while being I!
To have your glad unconsciousness
And be conscious of it!”
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso!
"Ela canta, pobre ceifeira" ["She sings, poor reaper"], first published in Athena, no. 3 (December 1924); trans. Richard Zenith, A Little Larger Than the Entire Universe (Penguin, 2006)
“Against destiny I fulfilled my duty.
Uselessly? No, for I fulfilled it.”
Poem "D. Duarte", verses 5-6
Message
Original: Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.
Ibid., p. 133
[X]: text missing in the manuscript.
The Book of Disquiet
Original: Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir masi é próprio das crianças. Conquistar mais é próprio dos loucos [porque toda a conquista é [X]]
“Changing from the ghosts of faith to the spectres of reason is just changing cells.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: Passar dos fantasmas da fé para os espectros da razão é somente ser mudado de cela.
Ibid., p. 279
The Book of Disquiet
Original: Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções.
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos...
E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.
Alberto Caeiro (heteronym), O Guardador de Rebanhos ("The Keeper of Sheep"), VI — in A Little Larger Than the Entire Universe, trans. Richard Zenith (Penguin, 2006)
“What is art but the denial of life?”
Ibid., p. 174
The Book of Disquiet
Original: Que é a arte senão a negação da vida?
“That's not my love; that's just your life.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: Isso não é o meu amor; é apenas a sua vida.
“There is no safe standard to tell man from animals.”
Ibid., p. 150
The Book of Disquiet
Original: Não há critério seguro para distinguir o homem dos animais.
Ibid., p. 258
The Book of Disquiet
Original: O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade.
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: Eu, porém, não tenho nobreza estilística. Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque me dói a cabeça.
“Who am I to myself? Just a feeling of mine.”
Ibid., p. 156
The Book of Disquiet
Original: Quem sou eu para mim? Só uma sensação minha.
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: O humanitarismo é uma grosseria.
Variant: Enthusiasm is rude.
“I never meant to be but a dreamer.”
Ibid.
The Book of Disquiet
Original: Nunca pretendi ser senão um sonhador.
“My dreams are a stupid refuge, like an umbrella against a thunderbolt.”
Ibid., p. 101
The Book of Disquiet
Original: Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda-chuva contra um raio.